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Este é o nono entre os diários de campo que compõem o caderno de campo da minha pesquisa sobre interações sociotécnicas nos Altos e Córregos da Zona Norte do Recife e sua área contígua em Olinda, cidades localizadas na Região Metropolitana do Recife (RMR). Mais detalhes sobre a pesquisa vocês podem ver na minha tese de doutorado, publicada em https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/48802. Para a tese a delimitação socioespacial foram os Altos e Córregos da Zona Norte do Recife, a parte de Olinda foi agregada depois da tese.

Os diários de campo foram realizados em minhas idas ao território objeto de estudo. Nessas idas sempre registrei o percurso com o aplicativo OSM Tracker. Este é o track da minha ida ao Alto Santa Terezinha, Recife/PE, em 23/04/2024 http://u.osmfr.org/m/1060051/

alt=alto santa terezinha mapa

Na manhã do dia 23/04/2024 segui rumo ao Compaz (Centro Comunitário da Paz) Eduardo Campos, no Alto Santa Terezinha, na Zona Norte do Recife/PE. Na ida fui de carro de aplicativo, pois marquei com a pessoas que iria me acompanhar lá (vou chamá-la aqui de Dandara nome fictício) às 9h e não queria ter que me acordar muito cedo ou me atrasar. Embora o local do encontro estivesse a 9km de onde eu parti, via transporte público esse percurso poderia durar entre 45min e 1h20min. Quando chegamos na altura da garagem da empresa de ônibus Caxangá, na Av. Presidente Kennedy, no bairro de São Benedito, ainda em Olinda, nos deparamos com um protesto que fechava a via no sentido terminal da Xambá. Nesse momento, percebi que foi acertada minha ida no carro de aplicativo. Mesmo assim, cheguei de 9h30 no Compaz.

Após driblarmos o engarrafamento, cruzamos a Avenida Beberibe e pegamos a Ladeira do Sapoti rumo ao Compaz. Nesse caminho passamos por um dos espaços de sociabilidade mais conhecidos do Alto Santa Terezinha, o Bela Vista Social Clube, que promove uma noite cubana nas tardes de domingo bastante concorrida entre moradores locais e da Região Metropolitana do Recife (RMR) como um todo.

Chegando ao Compaz, de cara percebi que o lugar tinha uma boa acessibilidade, com rampas e boa sinalização. Me dirigi a recepção, onde tinham pessoas recebendo informações para tirar documentos, para saber onde ficava a atividade cultural que eu iria presenciar. Vi também que em todos os andares haviam banheiros e o local estava bastante limpo. O Compaz Alto Santa Terezinha foi inaugurado em 2016, com o objetivo de ser um equipamento público que oferecesse cidadania, cultura e lazer. No lugar acontecem apresentações culturais, cursos de artes, músicas, esportes entre outras habilidades, além de tirar documentos e abrigar campanhas sobre saúde.

A prefeitura aproveitou, segundo Dandara, algumas estruturas que já haviam antes, como uma quadra para esportes e uma escola. Há também uma creche bem próxima, formando ali um complexo de educação, cultura, cidadania e lazer. Andando no entorno, encontrarmos também um campo de futebol de várzea por trás do Compaz, de onde dá pra se ter uma boa visão de altos e córregos vizinhos. Do Compaz na visão mais distante ao norte dá pra avistar Olinda, onde uma boa referência é a antena da antiga TV Manchete, que fica no bairro de Jardim Brasil e ao sul os prédios gigantes de bairros como Arruda, Parnamirim, Casa Amarela e Casa Forte.

O Compaz também tem telas em todos os andares, o que prejudica fazer fotos da parte mais alta do prédio. Apesar de ser um espaço com boa infraestrutura, cabe averiguar se a comunidade moradora no entorno consegue pautar as ações que ocorrem no Compaz ou são tratados como meros beneficiários dessas ações. Será um ponto de observação em idas futuras e numa entrevista semi-estruturada que pretendo fazer com a Dandara, já que esta ida foi mais para uma primeira aproximação com ela e com o Alto Santa Terezinha. Abaixo alguns registros fotográficos:

alt=campo de varzea por tras do compas

alt=academia da cidade acoplada ao compaz

alt=infraestruturas de lazer no compaz

alt=aula de capoeira

Na volta, voltei de ônibus, até para circular um pouco pelos altos próximos que também são de meu interesse de estudo. De início identifiquei um problema na infraestrutura de transporte: perguntei se havia algum ônibus que levasse para o terminal de Xambá, de onde eu poderia fazer integração para ir pra Olinda e Dandara me disse que não tinha. O TI Xambá fica a 2,7 km do Compaz! Mas, o fato de não haver um ônibus para lá, faz com que seus moradores precisem pegar um ônibus para a estrada velha de Água Fria para poder pegar outro ônibus, pagando outra passagem, o que inviabiliza de muitos moradores do Alto Santa Terezinha e arredores, acessarem serviços e lazer no município vizinho.

Depois de andarmos mais um pouco pela Avenida Aníbal Benévolo, onde fica o Compaz, passamos pela Unidade de Saúde da Família do Alto do Pascoal e ficamos na parada de ônibus. Neste momento já era perto do meio dia e a avenida, apesar de ser uma das vias mais movimentadas do bairro, cerca de 200 metros depois do Compaz já fica bastante estreita. Movimento intenso de carros e motos e de crianças e adolescentes largando do turno da manhã.

Peguei a linha nº 712 Alto Santa Terezinha que vai até o centro do Recife e volta. Conforme o ônibus desce pela íngreme e longa Rua Tamboara, identifiquei problemas bastante comuns nos altos e córregos no limite entre Recife e Olinda, que é o excesso de carros, tendo uns que esperarem para os outros passarem, o que deixa o trânsito bastante confuso e perigoso. Pedestres e ciclistas ficam altamente prejudicados neste contexto.

Durante o percurso do ônibus, que passou pelo Alto do Pascoal, Alto do Deodato e Bomba do Hemetério, áreas de interesse da minha pesquisa, percebi as infraestruturas de locomoção como escadarias, a sua maioria equipadas com corrimões, também as infraestruturas de contenção de barreiras, onde prevaleciam as lonas, mas também com a presença de muros de arrimo e geomantas em alguns pontos. Abaixo algumas fotos exemplificando a altitude, a ocupação do espaço, as infraestruturas, além do track dos meus caminhos de ida e volta, que também pode ser visto de modo interativo em http://u.osmfr.org/m/1060051/

alt=estruturas de contencao de barreiras 1

alt=estruturas de contencao de barreiras 2

O Alto Santa Terezinha e arredores guarda particularidades como ter um equipamento cultural da magnitude do Compaz e uma atração cultural que atrai a atenção de toda a RMR. Ao mesmo tempo, guarda muitas semelhanças com os demais altos e córregos no limite entre Recife e Olinda: as ladeiras íngremes e estreitas com trânsito desordenado, a necessidade infraestruturas de deslocamento, a vida cultural bastante rica e a lógica do transporte público operando sempre no sentido de conduzir as pessoas enquanto mãos de obra para as áreas centrais da cidade e nunca numa lógica em que as pessoas circulem para usufruir de todas as dimensões da vida, o que prejudica oportunidades de estudo, de trabalho, cultura e lazer.

Location: Alto Santa Teresinha, Recife, Região Geográfica Imediata do Recife, Região Metropolitana do Recife, Região Geográfica Intermediária do Recife, Pernambuco, Região Nordeste, Brasil

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