OpenStreetMap

Esta é uma tradução para o português da publicação que foi originalmente postada em espanhol no Blog Periodismo Ciudadano.

O OpenStreetMap Humanitarian Team (HOT) é uma organização global dedicada à ação humanitária por meio do uso de mapeamento participativo e dados abertos. Eles apóiam uma comunidade global de milhares de apoiadores voluntários criando e usando dados abertos de cidadãos para resposta humanitária e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Atividades realizadas pelo Hub na Guatemala e no México em 2022

Atividades realizadas pelo Eixo na Guatemala e no México em 2022.

Em 2022 abriram um escritório regional para a América Latina que acaba de completar um ano de atuação, por isso aproveitamos para conversar com Celine Jacquin, geógrafa francesa radicada no México e responsável pelo projeto.

P.C - Qual o motivo da abertura do Hub de mapeamento aberto na América Latina pela HOT?

C.J - Isto responde a uma estratégia de localização desenvolvida pelo HOT há três anos, que consiste em ter equipes locais que conheçam muito bem o seu país e os países vizinhos em termos de cartografia aberta e comunidades relacionadas. Isso tem sido canalizado por meio da abertura física ou virtual de escritórios regionais. Começou no Sudeste Asiático/Ásia Pacífico, depois na África: a parte noroeste e a parte sudeste e, finalmente, na América Latina e no Caribe.

Celine Jacquin falando sobre HOT no evento GIRD+OSM em Lima, Peru, outubro de 2022.

Celine Jacquin falando sobre HOT no evento GIRD+OSM em Lima, Peru, outubro de 2022.

A estratégia de localização do HOT vem de sua compreensão do diálogo que mantém há vários anos com comunidades de mapeamento aberto ao redor do mundo, e de sua postura para mudar a visão colonialista que às vezes é atribuída a organizações humanitárias internacionais. A HOT tem querido transformar-se e atuar do local para as comunidades, tendo as pessoas locais - que são também ativistas e participantes em comunidades open source e Openstreetmap - como parte das suas equipas de trabalho.

Na região iniciamos com uma fase experimental e uma dinâmica muito comunitária que permitiu ao HOT desenvolver as suas linhas de atuação totalmente alinhadas com o que os nossos aliados precisam, ou seja, qualquer tipo de comunidade, organização, governo e comunidade OpenStreetMap.

P.C - O que este Hub de Mapeamento Aberto oferece às diferentes comunidades?

C.J - Queremos trabalhar com comunidades focadas em soluções para um problema que tem impacto na realidade, em temas como cidades sustentáveis, gestão de desastres e resiliência, saúde, igualdade de género e migração ou deslocação de populações. A ideia é disponibilizar conhecimentos metodológicos, competências técnicas, ferramentas e também apoio através da articulação com mais comunidades e financiamentos, para mapear exaustivamente determinadas áreas e determinados temas ou fazer visualizações de dados.

Atividades realizadas pelo Eixo na Guatemala e no México em 2022.

Atividades realizadas pelo Eixo na Guatemala e no México em 2022.

Por exemplo, tendo melhores mapas ou visualizando suas informações por meio de cartografia, eles podem ajudar suas comunidades a se locomover melhor, a acessar melhor os serviços de que precisam, a transmitir informações às populações que não estão conectadas, a defender causas perante as autoridades, a promover mudanças nas leis, para melhorar suas buscas de financiamento para ampliar seu escopo, para fazer educação digital com jovens, etc. etc.

P.C - Que desafios surgiram neste primeiro ano de atividades?

C.J - Um desafio tem sido encontrar o equilíbrio entre juntar as comunidades com os seus próprios temas, e a vontade da organização de também desenvolver novos temas onde não temos necessariamente redes. Isso exigiu o desenvolvimento de redes desde o início, por exemplo em países como os da América Central em torno da questão da migração. Tem representado algum esforço para formar grupos de trabalho iniciais que permitam a aproximação às comunidades que podem depois definir como querem usar os mapas para aumentar os seus impactos junto das populações migrantes.

Atividades realizadas pelo Eixo na Guatemala e no México em 2022.

Atividades realizadas pelo Eixo na Guatemala e no México em 2022.

Onde não há uma rede inicial, é mais difícil dialogar em torno do mapeamento aberto como instrumento que contribui para causas sociais. É preciso primeiro criar esse conhecimento, demonstrar sua utilidade.

P.C - E ao nível das conquistas, o que poderia apontar?

C.J - A nossa fase experimental foi uma conquista em si, o seu objetivo era poder testar todas as configurações possíveis de colaboração com os mais diversos atores, e para atividades ou projetos dos mais variados, sendo como uma preparação para aquilo que seria o futuro do Hub e conseguir colaborar da forma mais justa e esperada com os atores e comunidades. Assim se desejou para o ano de 2022 e alguns projetos tiveram sucesso mas outros não saíram ou se transformaram pelo caminho, ou demandaram mais tempo e é exatamente isso que nos permite entender como continuar. O objetivo era aprender a colaborar e ao mesmo tempo conseguir a formação de uma rede inicial.

Por outro lado, uma grande conquista foram as colaborações com grupos de estudantes em várias universidades para alcançar um impacto real em determinados projetos. Um dos objetivos de longo prazo do Hub é desenvolver uma estratégia educacional ambiciosa em torno do mapeamento aberto, tornando a qualidade dos dados um critério central. E bem, ao longo de 2022 convidamos alunos que se formaram a fundo para participar de projetos de grande abrangência e que agora também são capazes de formar outros, formando uma corrente positiva. A experiência nos permitiu afinar a estratégia que continuaremos a desenvolver capacitando muitos jovens em muitos lugares, vinculando-os ao setor de políticas públicas e à cartografia oficial e melhorando positivamente o mapa do Openstreetmap.

Dos países que raramente são mapeados na região, os diferentes projetos com atores locais têm permitido contribuir muito com o mapa, especialmente na América Central e na Cordilheira dos Andes.

P.C - Como você resumiria o estado do mapeamento aberto na região?

C.J - O mapa do Openstreetmap é desenvolvido por comunidades que já existem na região há muitos anos, mas de forma desigual. Houve comunidades muito ativas, por exemplo, na Colômbia, Brasil, Chile, Argentina ou México, e países com muito menos participação comunitária, como a América Central. Nestes países, o mapa apresenta deficiências e dependeu de interesses específicos de pessoas em determinados períodos, ou de empresas que promoveram o mapeamento de determinadas infraestruturas. Em geral, deve ser melhorada a cartografia das zonas rurais, procurando-se a exaustividade da cartografia das infra-estruturas (nomeadamente rede viária, povoações e edifícios posteriormente).

P.C - Você é co-fundadora do Geochicas -um grupo de mulheres mapeadoras- qual é o papel atual das mulheres na comunidade de mapeamento da América Latina? Há muitos mapeamentos?

C.J - GeoChicas foi formada como uma rede quando as poucas mulheres do Openstreetmap Latam perceberam nossa baixa participação proporcional. Esta não é apenas uma preocupação estatística, mas percebemos que, ao querer participar na organização de eventos ou liderar ações de mapeamento em particular, era difícil para nós interagir com homens que tendem a ter um modo relacional rude e às vezes desrespeitoso, e que este modo relacional, embora algumas mulheres pudessem lidar com isso, desencorajava a maioria de nós a participar de comunidades de mapeamento.

Prova da necessidade de um espaço separado, onde haja maior confiança para ter um relacionamento agradável, tirar dúvidas, treinar, dialogar, é que essa rede tem mantido um crescimento permanente e muito rápido, começando com 6 pessoas no final do State of the Map de São Paulo em 2016, e já conta com mais de 300 membras.

O papel das mulheres na comunidade de mapeamento aberto, como o papel de muitas outras minorias, é absolutamente fundamental para produzir um mapa que represente a diversidade. Em termos práticos, significa que o mapa deve apresentar elementos e oferecer informações para todas as categorias da população, em termos de equipamentos, serviços, tipos de objetos à venda, formas de se locomover nas cidades e no território, etc. É uma questão de justiça social, já que o mapa é uma ferramenta de fazer política e de uso diário.

A GeoChicas tem trabalhado ativamente para representar no mapa o tipo de informação que as mulheres precisam encontrar. Por exemplo, detalhar as informações sobre serviços hospitalares para que as mulheres possam encontrar dados para cuidar de sua saúde feminina, infantil e geriátrica (está comprovado que as mulheres são as que mais cuidam desses outros grupos populacionais). Também desenvolve projetos de ciência de dados com perspectiva de gênero e promove a formação de mulheres e meninas em ciências geoespaciais.

P.C - Já que estamos falando de dados, qual é a política de uso de dados do Hub e como você está disponibilizando esses dados para a comunidade regional de dados?

C.J - Os dados mapeados na plataforma Openstreetmap estão disponíveis para todos desde que esta plataforma seja aberta. Portanto, os projetos que apoiamos participam do fortalecimento do mapa para qualquer outro uso. Para os atores que não possuem nível técnico suficiente para baixar os dados do Openstreetmap diretamente, também damos orientação para um acesso mais direto. (Por exemplo, existe a plataforma Humanitarian Data Exchange)

Quando os projetos apoiados pelo Hub geram mais dados privados, estes são fechados caso a caso. Pode ser o caso, por exemplo, de informações sobre migrantes, o que pode representar um risco e perigo para eles ao torná-las abertas. Mas, em geral, dialogamos com os atores para que os dados que não representem perigo ou não coloquem em risco a privacidade sejam compartilhados em plataformas abertas com licenças adequadas.

P.C - Que planos tem o Hub para 2023?

C.J - Em 2023 a equipe vai reforçar a sua estrutura. No ano de 2022, trabalhamos de uma forma que foi uma escuta aberta ao que as comunidades, organizações e governos queriam e precisavam do mapeamento aberto. Agora, com base nessas lições, as formas e linhas de trabalho devem ser fortalecidas.

Em segundo lugar, a equipe vai reforçar a sua capacidade de financiamento, de forma a poder financiar o trabalho das comunidades e o seu acompanhamento. E por fim, uma terceira linha importante será investir na qualidade dos dados, desenvolvendo toda uma equipe voltada para isso.

P.C - Como eles podem entrar em contato com você ou saber mais sobre o Hub?

C.J - Você pode visitar a página do Hub e entrar em contato conosco a partir daí. e nos siga nas redes sociais, onde procuramos publicar bastante, principalmente no Twitter e Instagram, ah e estamos no fediverso também.

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